terça-feira, 31 de julho de 2012

Louca autoria

Escrevo porque nas palavras
Já não acho meus sentimentos tão ridículos
Porque os versos são construções, são cubículos
As letras escondem a estupidez dos meus labirintos
E ao ler o escrito vejo muito menos
do muito mais que eu via
Revivo o momento, mas abafando a agonia
Pois leio apenas uma descrição do que eu antes sentia

E então revejo o que eu era
Num misto de horror e quem dera
Numa paisagem, num quadro intrigante
Em que eu vejo um reflexo tão impreciso
De alguém que me parece tão distante
Que meu olhar se torna indeciso
Ao não saber responder com certeza
Sobre a autoria do verso que leu:
Será que foi mesmo esta mão que o escreveu¿


quarta-feira, 29 de junho de 2011

Mergulho


Quem dera em densa água
Um dia eu me afogar
E no inundar dos pulmões
Não resistir nem lutar

E então todo sentimento
Quem sabe então seria
No arder deste momento
Tão intenso quanto devia

Por isso não pense que o meu desejo
é de algum modo suicida
Não há desejo maior em mim
Do que o desejo de vida

Mas resumimos a vida
na simples ideia de envelhecer
mesmo vivendo sabendo
que não se resume o viver
só se ratifica, solidifica
na intensidade de um instante
tão breve e tão bonito
e por isso tão triunfante

sexta-feira, 4 de março de 2011

O Cometa


Os homens num intento fugaz ousaram marcar o tempo

Mas mais marcados ficaram de tentar prender um momento

Um momento não se prende, sempre escoa tão fugaz

Vai fazendo o que quer, como sempre ao homem faz


Eu por meu lado pratico largamente a humanidade

Ouso tentar prender o tempo num instante saudade

Meu pouso é brincar no tempo e o vou deixando brincar

Brincando com o momento quem sabe um dia eu o faça voltar


Brinquei que um dia um cometa tudo em mim fez renovar

Que ao passar pelo céu todo este tempo pode parar

E este cometa sem medo, em seu trajeto estelar

Passando pelos planetas brilhou bem dentro do meu olhar


Eu brinquei que o cometa parou com sua jornada sem final

Cansou de ficar vagando na imensidão universal

Sonhei então que o cometa parou nos braços de uma mortal

Fazendo-a sentir-se por um momento especial


Mas eu bem sei que aos cometas não se deve tentar prender

Eles são como tempo, por todo o espaço a correr

E como o tempo deixa aos homens as suas marcas sem fim

Me marcou também o cometa que um dia passou por mim


Não sei se um dia o cometa ousará voltar

Nem sei se cabe a mim a ousadia de o esperar

Mas sei que os cometas deixam todo o direito de desejar

Então desejo ao cometa que um dia eu possa também voar

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

O sonho

Em um sonho

Cada momento uma dança

Cada dança uma canção

Cada canção uma lembrança

Cada lembrança uma emoção


Assim minha mente e meu peito

Se tornaram um grande salão

Onde num círculo perfeito

Um casal dança em repetição

A passos lentos girando

Olhando um pro outro sem nada dizer

Enquanto a música estiver tocando

Eles não param de se mexer


Mas de tão fracos seus movimentos

a toda hora parecem parar

é que o vazio dos meus tormentos

são os seus passos a recomeçar


Quem sabe o casal se beijasse

Quem sabe sorrissem os dois

Quem sabe essa dança acabasse

Eu acordasse logo depois

Mas sempre a mesma melodia

Toca mil vezes sem parar

O que não é dito causa agonia

Será que nenhum deles falará?

Talvez o que queiram dizer

Só possam dizer através do dançar

Viver é lutar

Se viver é lutar, então que eu lute

Que eu traga primeiro o punho mais forte

Que eu faça da luta bem mais que o esperado

Que seja a vitória bem mais do que sorte

Que saia do esforço o melhor resultado

Que eu veja que a luta não é só combate

Que eu lute com garra e por algum motivo

Sem deixar que motivo nenhum me maltrate



Que eu seja o primeiro a querer regras justas

Que eu seja o primeiro a cumpri-las também

Que eu não me esqueça em nenhuma das lutas

Que não me compete matar a ninguém

Que seja a Justiça sempre minha espada

mas que a misericórdia adestre minhas mãos

pra que eu não seja vítima de minha arma

nem faça de meu rigor minha perdição



Que haja respeito a qualquer oponente

Que haja a coragem que preciso for

Que eu haja na luta de forma decente

Que eu não desista de ser vencedor



Se eu sofrer com um golpe que eu não esqueça

Que não se rebaixa um grande campeão

Só vence uma luta quem tem na cabeça

Que não se desiste em qualquer condição

domingo, 17 de outubro de 2010

Sobre o que sinto


Eu não sei dizer bem o que sinto
Somente sei que sinto e penso
Que me pesa que seja assim
Que eu não mostre tão simplesmente
O que se passa dentro de mim
E o que flui na minha mente

E assim esse esconder acaba tendo um preço
Parece que eu recebo sempre aquilo que eu não mereço
Parece que o meu sofrimento mudo
Passa por sofrimento não existente
E o que pra mim era tudo
Passa por nada a tanta gente

Eu não sei se é por eu não dizer
O que está estampado em meu rosto
Seja isso alegria, ou então seja desgosto
Ou talvez eu não cause empatia
Por menor que seja a ninguém
E não se importem em fazer-me mal
Mesmo podendo fazer-me o bem

Só espero que alguém entenda
O que eu ainda não soube explicar
Que a fragilidade de um coração
Só se exprime através do olhar

domingo, 18 de abril de 2010

Somente em Ti, meu Senhor



Sempre em Ti, meu Senhor
Minha alma espera somente
No teu amor se refugia
E é dele dependente

Somente em Ti, meu Senhor
São as feridas saradas
Somente em Ti, meu Senhor
Fazem sentido as jornadas

Não posso, meu Deus, negar
O Teu sublime cuidado
Em Ti sempre firme,
Não hei de ser abalado

Teu nome em meu coração
Há sempre de ser achado
E sempre viverá em mim
O desejo de estar ao Teu lado

Não deixe, meu Pai, que eu me afaste
Nem por um dia somente
De viver do Teu amor
E nele esperar paciente.